segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Os custos da megalomania

Por David Marques

São dezenas de quilómetros de estruturas colossais. Tudo tem o seu preço e o Dubai está a pagar pela sua ambição excessiva. A 25 de Novembro, o Governo do emirado anunciou o pedido de uma moratória de seis meses para liquidar parte da sua dívida externa que ascende aos 60 milhões de euros.
Há 60 anos era pouco mais do que aquilo que o rodeia – deserto. As infra-estruturas eram escassas, sem serviços de telefone e electricidade. Hoje, o Dubai é provavelmente a cidade mais admirada do planeta, ostentando orgulhosamente as suas imponentes estruturas em aço e betão. Em nenhum outro lugar, nem mesmo em Hong Kong, Las Vegas ou Singapura, é possível encontrar hotéis de sete estrelas, ilhas artificiais habitáveis ou um arquipélago concebido com o propósito de representar o mundo.

Contrastando com a economia da maioria dos outros seis emirados que compões os Emirados Árabes Unidos, apenas 6% das receitas da região provêm de petróleo e de gás natural, cabendo ao sector do imobiliário e da construção a grossa fatia do bolo – cerca de um quarto do seu Produto Interno Bruto. Apesar da escassez de recursos naturais, a favorável localização geográfica e os projectos megalómanos de Mohammed Bin Rashid, emir do Dubai, bastaram para que a partir dos anos 90 a cidade se começasse a estabelecer como um dos principais centros de negócios a nível internacional.

Quando a economia internacional, em meados de 2008, começou a dar sérios sinais de debilidade, o Dubai não navegava ao sabor do vento. A crença de que a sustentabilidade da pérola do Golfo Pérsico era inabalável foi suficiente para manter o investimento compulsivo e as mais de 30 mil gruas (25% do total no mundo) a operar a todo o vapor. Puro engano! A economia do emirado não era menos volátil do que a dos países ocidentais e o acentuado decréscimo do turismo provou-o. Terá sido, então, essa mesma confiança que aumentou as probabilidades do emirado dar lugar a um estaleiro…embargado.


A debilidade das instituições financeiras internacionais inviabilizou o acesso a mais crédito e a dívida externa do Dubai, que ascende aos 60 mil milhões de dólares, tornou-se insustentável a ponto de a Dubai World, empresa responsável pelos investimentos governamentais, ter iniciado a 25 de Novembro passado uma renegociação com a banca internacional com vista à suspensão da liquidação imediata de um empréstimo obrigacionista na ordem dos 26 mil milhões de dólares (mais de 17 mil milhões de euros). A ameaça da empresa entrar em incumprimento com os seus credores teve os seus reflexos na bolsa e nem mesmo a promessa de apoio financeiro de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, evitou que em menos de duas semanas os índices do Dubai Financial Market caíssem mais de 22%, para mínimos de cinco meses.

Fonte: totalwallpapers.com

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Por Adriano Narciso

O Tigre Branco é o primeiro romance de Araving Adiga e valeu-lhe o Man Booker Prize no ano passado. Um caso atípico no historial deste galardão.

O Tigre Branco apresenta-se como uma imagem da Índia enquanto potência mundial, a Índia que tardamos em conhecer. A Índia em mudança e os efeitos que esta mudança potencia nas pessoas.

Adiga apresenta-nos o trajecto de vida de um indiano chamado Balram desde a sua infância passada numa família com poucos recursos até ao momento em que decide mudar a sua vida, trabalhando como motorista de uma família abastada.

O estilo epistemológico em que a narração decorre ajuda o autor a fazer uma divisão do romance em partes que se iriam perder se houvesse uma maior relação entre locutor/interlocutor. Durante sete noites o empresário indiano escreve sobre a Índia do século XXI em diversos parâmetros. Dá conselhos ao primeiro-ministro sobre o mundo empresário. Fala das diferenças entre castas e das diferenças entre a parte pobre da Índia – a Escuridão - e a parte da Índia onde existe aquele que se pode apelidar ‘sonho indiano’, a Luz, zonas onde se verifica uma grande ‘ocidentalização’ da sociedade, impregnada de vícios. Balram é um dos lesados pela Luz. Ao chegar à cidade começa a ganhar vícios que o tornam num homem sedento por dinheiro e poder e que o levam a matar para subir na vida.

O Tigre Branco consegue conciliar o arquétipo de romance moderno com o clássico. Ao lermos o episódio de Balram a vaguear por uma rua com prostitutas e quando visualizamos todo o processo (algo inconsciente) que termina no homicídio do seu patrão lembramo-nos facilmente de Raskolnikov em O crime e castigo de Dostoiévski. A estas tonalidades do romance psicológico russo juntam-se uma grande carga de ironia e humor negro presentes, por exemplo, em Dickens.

Esta é uma fábula sobre a permeabilidade da moral de uma pessoa à ambição descontrolada por uma vida melhor. A verdade é que o protagonista diz várias vezes que a única forma de sair deste ‘galinheiro’ é conseguir matar. «Deixem que os animais vivam como animais. Deixem que os seres humanos vivam como seres humanos. Toda a minha filosofia de vida está contida nesta frase». Assim, é difícil decidir se este homem é ou não um criminoso sangrento, um monstro. Para Balram há crime mas não há castigo, uma vez que o crime era o único caminho para a luz. Há uma ideia de isenção de culpa que atinge Balram e talvez seja por isso que ele consegue vingar na vida, tornar-se um Tigre Branco, um animal em vias de extinção que nasce ocasionalmente.

Nesta obra acabam os clichés acerca da Índia inocente e inundada de pessoas de uma subserviência elevada ao cubo. Depois de ler este livro torcemos o nariz ao já muito falado Shantaram e ao oscarizado Slumdog Millionaire. Afinal, a vida na Índia não é tão fácil como parece.

2012

Por Joana Perez

É recente, e já visto por muitos, o filme «2012» de Rolland Emmerich, autor de filmes como «O Dia da Independência», «O Dia Depois de Amanhã» ou «10.000 a.C.». Todos eles acerca de datas, de dias, de acontecimentos. Todos eles falando de uma possibilidade que não surge do nada, é sim estudada por alguém com cultura suficiente para conseguir descodificar muitas descobertas da História.

O «Livro do Apocalipse», um dos livros da Bíblia, é muitas vezes associado ao conceito do “Fim do Mundo”. A grande mensagem da obra é a “Revelação Divina” de coisas que até então permaneciam secretas a um profeta escolhido por Deus. A maior parte do livro é escrita em linguagem simbólica e, por isso, dá margem a diversas interpretações pelos diversos segmentos cristãos.

Segundo o calendário Maia, o término dos dias será a 21 de Dezembro de 2012. É deste ponto que Emmerich parte no seu filme. Outros filmes, como «Matrix» e «Knowing», também abordam este tema, de formas diferentes, mas sempre com um conceito em comum: o Homem. A máquina que o Homem inventou. O ser humano como o grande causador do fim do mundo.

O calendário Maia já terá previsto diversos acontecimentos, como a chegada do Homem branco à América. Esta última previsão, que pode ser interpretada, também, como uma grande mudança, criou uma especulação em relação a este dia. Segundo astrónomos que decidiram aprofundar o assunto, aconteceria um alinhamento da Terra com o Sol, o centro da galáxia e mais outros corpos celestes, e visto que o centro da galáxia é um buraco negro, neste dia final acabaríamos por ser engolidos.
Mas a verdade é que, do ponto de vista científico, a profecia Maia é apenas um mito. Aliás, o calendário era a forma que a civilização Maia usava para contar o que para nós serão os dias, os meses. A sua contagem era em «uinals» (20 dias), «tuns» (18 uinals ou 360 dias) e «katuns» (20 tuns ou 7200 dias). O calendário tem cerca de 5200 anos e termina em 13.0.0.0.0., que supostamente corresponderia a 21/12/2012, o último dia por eles considerado, o que, ainda assim, não prova, de forma clara, que a civilização identificasse este dia como o último, o fim do mundo.

Já em 2000 se dizia que o mundo iria acabar, que não conheceríamos o novo Milénio. Mais tarde, 6 de Junho de 2006 (6/6/6) seria o dia final…visto que marcava o “Número da Besta” (uma perspectiva religiosa).

O que é facto é que ainda cá estamos, a contribuir para o aquecimento global, o derretimento dos icebergues, a não tão lenta destruição dos nossos recursos. Foi descoberto, em meados do século XVIII, o risco da emissão de gases para a atmosfera, salientando o dióxido de carbono como um elemento que aquecia o globo terrestre. No início do século XX, já se falava no risco de aumento de temperatura, um impacto que tomaria proporções cada vez maiores. Estima-se que, neste momento, a temperatura aumente entre 1.4 e 6 graus centígrados todos os anos, em diversos locais do mundo.

Em 2006, Al Gore lança «Uma Verdade Inconveniente», alertando a população mundial para esta realidade. No ano seguinte ao lançamento do filme, foram lançadas mais de 106,000 toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera; o serviço nacional de meteorologia de Moscovo prevê que este ano Dezembro receberá o dia mais quente do mês de sempre no país. A temperatura média é de 4 graus negativos, mas esta semana chegará aos 10 positivos. Estas alterações estão a afectar o património natural do país. Os ursos do zoo de Moscovo, por exemplo, não conseguirão hibernar na altura certa devido à temperatura.

As tempestades aumentaram. Estão a ocorrer com mais frequência e muito mais intensidade. Mas a água nos solos acaba por evaporar mais rápido, tornando as zonas secas ainda mais secas. Todas estas alterações provocam o aparecimento de furacões e ventos bastante fortes, capazes de destruir cidades.

Nos últimos 100 anos, o nível da água do mar subiu 25cm. No próximo século deverá subir mais cem; com o encurtamento das praias resultante deste impacto, algumas ilhas do pacífico desaparecerão. O lençol de gelo da Gronelândia está a derreter a uma velocidade assustadora. Estudiosos estimam que, em 500 anos, desapareça completamente, e estamos a falar de uma das mais extensas coberturas de gelo do globo terrestre. E a própria Terra não fica beneficiada. Só esta porção contribui em cerca de 5km para a subida do nível da água, caminhando a cada segundo para um futuro submerso.

Talvez os profetas, ou apenas os homens sábios nos quisessem alertar para isso.
Por enquanto, ficamos com bons filmes, óptimos efeitos especiais… e perspectivas nas quais somos livres de acreditar ou não.

Fontes
http://www.greenpeace.org/
http://www.aip.org/history/climate/summary.htm
http://www.climatecrisis.net/
http://www.global-warming-statistics.org/climate-change-facts.html
http://cnews.canoe.ca/CNEWS/WeirdNews/2009/12/03/12022351-ap.html
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Por Adriano Narciso

A atribuição do prémio Nobel da Literatura gera sempre muita polémica e este ano não foi excepção. Herta Müller foi a escritora eleita como sucessora de Jean-Marie le Clézio, autor francês vencedor no ano passado. As maiores críticas à distinção desta autora (e de muitos outros) reiteram a ideia de que, na atribuição do prémio, mais importantes do que a qualidade literária e as características directamente ligadas ao estilo de escrita, terão sido as motivações políticas da escritora ao longo da sua carreira.

De facto, a obra de Müller é quase indissociável da sua vida privada. Nascida na aldeia romena de Nitzkydorf, na Transilvânia, a jovem, de família alemã, estudou alemão e literatura romena. Mais tarde aceitou o trabalho de tradutora mas acabou por ser demitida, em 1979, por se ter recusado a cooperar com a polícia política do regime de Nicolae Ceaucescu. Durante a década de 80 casou com o também escritor Richard Wagner e em 1987 o casal fugiu para a Alemanha, uma vez que a situação da escritora no seu país natal estava a tornar-se insustentável tendo em conta o teor contestatário das suas publicações, que atingiam sobretudo o regime totalitário, que acabaria por ser derrubado em 1989.

Uma análise às temáticas predominantes na sua bibliografia permitem-nos concordar com a ideia de uma autora cuja obra se liga à experiencia pessoal num regime totalitário. A Academia parece ter-se apoiado nesta premissa para fazer a sua escolha. Para o júri, Herta Müller é uma escritora que consegue «com a densidade da sua poesia e a franqueza da sua prosa, retratar o universo dos desapossados».

Eternos e prováveis candidatos

A acompanhar esta tendência para discordar da atribuição do galardão, existem casas de aposta para aqueles que acham ter um dedo que adivinha. Este ano as opiniões dividiam-se. Nos lugares cimeiros encontravam-se o israelita Amos Oz, os norte-americanos Philip Roth, Thomas Pynchon, Cormac McCarthy e Joyce Carol Oates e o italiano Claudio Magris. A lista continha até nomes de grandes figuras da música, como Bob Dylan. O de Herta Muller só entrou para esta lista, para espanto de muita gente, na véspera da atribuição do prémio.

Philip Roth é um dos eternos candidatos ao Nobel. Ao lado dele existe uma lista de outros autores ‘canonizáveis’ como o caso de Milan Kundera, Vargas Llosa e até Chinua Achebe. A escrita do autor de obras como «A Pastoral Americana», «Conspiração contra a América», «A Mancha Humana» ou «O Teatro de Sabbath» compara-se à de Saul Bellow (1915-2005), condecorado em 1976 pela academia sueca, e aborda o desejo sexual, monólogos pejados de referências à morte, loucura e à decadência moral da sociedade americana. O interesse suscitado no nosso país em relação a este autor não é novo. Roth é um dos escritores mais queridos dos leitores lusos. Indignação acabou de ser editado pela Dom Quixote e conta com uma boa receptividade. Entretanto a editora afirmou que está a ser preparada a publicação daquela que é considerada por muitos a tour de force do escritor, Portnoy’s Complaint.

Outro norte-americano cujo nome vem sendo repetido ano após ano como candidato ao prémio sueco é Thomas Pynchon, escritor conhecido por viver numa reclusão quase absoluta. As únicas fotos conhecidas remontam à sua juventude e não é conhecido o seu local de residência. Sabe-se que tem 72 anos e que recentemente emprestou a sua voz para o trailer do seu livro Inherent Vice (2009). De resto, o que se conhece de Pynchon é o que este nos dá a conhecer através da sua escrita que mistura influências pós-modernistas e humorísticas com um surrealismo impregnado de ficção científica e leituras alternativas de acontecimentos históricos. Romances como Gravity’s Rainbow reúnem centenas de personagens que obrigam o leitor a ter muita atenção e, acima de tudo, paciência. A natureza polímata do autor é também um factor de realce, dado o nível de detalhe que é prestado pelo mesmo nas descrições de uma situação que à primeira vista parece banal.

Cormac McCarthy era outra grande aposta para este ano. O autor de best-sellers como «A estrada» e «Este País não é para Velhos» (adaptado para cinema pelos irmãos Cohen) tem um discurso reminiscente do sulismo e do ‘fluxo de consciência’ preconizados por William Faulkner, laureado com o prémio sueco em 1949.

Herta Müller não está muito traduzida no nosso país. Só podemos contar com «O homem é um grande faisão sobre a terra», editado pela Cotovia, e «A terra das ameixas verdes», publicado pela Difel. Mas, tal como aconteceu com o laureado do ano passado, essa situação deve ser corrigida nos próximos meses, esperando-se certamente uma grande vaga de traduções.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009

«Portugal: Um Retrato Social»


Por Ana Pinto, Ângela Gago, Lénia Maria e Rúben Remédios

Portugal: Um Retrato Social é um documentário do sociólogo António Barreto, produzido e emitido pela RTP em 2007. A Redacção 2.3 tomou contacto com um dos sete episódios dessa obra «Igualdade e Conflito: As relações sociais», numa aula de Sociologia.

O autor da obra esclareceu que «este é o retrato do nosso país (…) que melhor se compreende se olharmos para o passado, para os últimos 30 ou 40 anos». No sexto episódio do documentário que decidimos analisar, são abordados temas como a relação entre a família e o trabalho, a cultura, os espectáculos e os media, as mudanças no comportamento sexual, entre outros. Ao longo da série, o telespectador vive «(…) entre 1960 e a actualidade, um longo período de desenvolvimento», tal como é referido por António Barreto num dos textos que acompanha o DVD, editados pelo Jornal Público.

Relação Família/Trabalho

Desde os últimos 40 anos até à actualidade, Portugal tem vindo a sofrer mudanças nas relações familiares. Nas décadas de 60-70 vivia-se, no nosso país, um ambiente de grande repressão, provocado pela Ditadura de António Oliveira Salazar. Este clima não favoreceu as relações familiares que eram baseadas em regras e princípios rígidos, o que fazia com que os filhos tivessem mais respeito pelos pais. Este cenário desapareceu e hoje em dia «a autoridade dos pais é frequentemente posta em causa. Parecem estar a perder perante a concorrência da escola, da rua, da discoteca, dos “grupos”, da política, da cultura e das igrejas».

Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, ambos os pais passaram a ter um papel activo na sociedade. Assiste-se a um afastamento da família «as refeições eram no passado, um momento em que toda a família se reunia. Deixaram de o ser», opina António Barreto.

Com a entrada da indústria em Portugal, notou-se uma diminuição das classes rurais em favor das classes operárias. No sector terciário, mais especificamente nos serviços e na administração, aumentaram as classes médias.

Actualmente as diferenças entre as classes sociais são mais subtis mas continuam a existir «vivem em bairros diferentes e as suas casas distinguem-se. Têm divertimentos próprios e a sua vida de todos os dias não se confunde», sublinha António Barreto. Porém «a sociedade de consumo dá a ilusão de que não existem diferenças», diz ainda o autor. O nível de vida entre os “ricos” e os “pobres”, pode-se confundir, pois quem não tem publicidade de usufruir de um bom carro, de uma boa casa, ou mesmo de viagens na altura das férias, pede emprestado a um banco e o problema “resolve-se”.Para a sociedade, a questão do endividamento reflecte um grave problema.

A Cultura, os Espectáculos e os Media

No tempo dos nossos pais e avós não havia certos luxos que temos hoje. Começando por bens tão indispensáveis como a electricidade, a água canalizada e o saneamento básico, nem a tecnologia dos objectos do quotidiano de hoje, como telemóveis, jogos de computador ou Playstation: “pequenos brinquedos” que a geração de hoje não consegue dispensar.

Hoje, a sociedade de “consumo de massas” está bem presente na vida de todos nós, basta ir a um centro comercial e deparamo-nos com pessoas a fazer compras, a ir ao cinema, a comer em diferentes restaurantes, de acordo com a preferência de cada um.

Os meios de comunicação de massas também chegam a casa das pessoas, através da televisão e dos jornais e revistas. A televisão tem um papel de destaque na vida da população «em média, cada português vê quatro horas de televisão por dia (…). As telenovelas são sobretudo para as mulheres, o futebol para os homens (…). Parecem ficar assim satisfeitas as aspirações culturais dos portugueses», segundo afirma o cronista.

«Ao contrário dos países europeus, a leitura em Portugal não é um fenómeno de cultura popular. Um português, em média, lê um livro por ano», esclarece o narrador do documentário. A população portuguesa lê somente aquilo que mais lhe interessa, respectivamente, as revistas “cor-de-rosa” para as mulheres e os jornais desportivos para os homens.

Nos restantes países da Europa a realidade não é a mesma, pois a população tem hábitos de leitura mais frequentes e diversificados. Nota-se também uma grande discrepância relativamente ao preço a que são vendidos os jornais e os livros entre Portugal e os demais países europeus.

Em relação aos espectáculos, em Portugal tiveram uma grande adesão. No início só existia o «Festival Vilar de Mouros», hoje em dia há mais variedade. São disso exemplo os festivais «Sudoeste», «Super Bock, Super Rock» e concertos de grandes concentrações de massas, como o «Rock in Rio».

Mudanças no Comportamento Sexual

Desde 1960 para cá a vida sexual dos portugueses tem vindo a sofrer mutações de grandes níveis. Antes não era aceite pela sociedade uma mulher que não fosse virgem para o casamento, mas o homem já podia casar sem o ser. «A sexualidade era dominada pelo machismo», como afirma António Barreto.

Um dos vários testemunhos presentes ao longo do documentário dá a sua opinião acerca deste tema na actualidade «O sexo deixou de ser uma fantasia, é uma coisa natural. Digamos que há muita procura e muita oferta, pode ser encontrado numa esquina, num bar, ou num filme no cinema em sexo explícito», opina Pedro Canais.

A vida à noite também mudou radicalmente. Se antes não havia a liberdade para saídas nocturnas, hoje o cenário inverte-se, de tal forma que há discotecas por todo o país, muitas delas não licenciadas, para faixas etárias desde os 13 anos. As drogas e o álcool começam a ser uma companhia, cada vez mais precoce, para muitos jovens. As razões são muitas, passam pelas formas de relacionamento dos jovens entre si e com as suas famílias, apresentando o documentário registos de jovens que confessam não ter visto os pais durante toda a semana. «Aos 14 e aos 15 anos é a idade onde tudo acontece. Hoje em dia há muita informação, só quem não quer é que não tem (…) e em relação aos pais, uns conseguem ajustar-se aos problemas, outros não. Uns conseguem adaptar-se ou pôr-se a par, outros não», testemunha Márcio Santos.

O documentário produzido em 2007 retrata grande parte do quotidiano de qualquer um. De 2007 para 2009 não houve mudanças muito significativas a nível social, mas houve a nível político e económico.

Na política, o Partido Socialista continua no poder do Governo, no entanto houve mudanças a nível autárquico em algumas freguesias. A crise económica está mais acentuada. Por todo o país começam a existir campanhas de como poupar mais, apelando aos portugueses que «apertem o cinto», agora mais do que nunca. «No documentário está bem representada a nossa actualidade. Talvez o que mudou mais tenha sido a insegurança. Em 2009, sinto que há mais insegurança e criminalidade junto dos bares», opina Pedro Silva, um aluno do curso de Ciências da Comunicação. «A crise económica tem vindo a aumentar, há falta de emprego e as pessoas não têm tantas facilidades económicas», acrescenta ainda Pedro Silva.

O documentário Portugal: Um Retrato Social «é um dos melhores documentários que a RTP e os canais portugueses emitiram», observa o Prof. Carlos Luz, docente de Sociologia, da Universidade do Algarve.